segunda-feira, 13 de setembro de 2010

sempre.

Ele estava lá. No mesmo bar de sempre, tomando a mesma coisa de sempre e sozinho, como sempre. Não fumava, não gostava de ter sua visão atrapalhada pela fumaça. 
Pensava que em dois dias receberia o mísero salário que lhe cabia.Gastaria uma parte com as bebidas, que deixaria em casa para quando os bares estivessem fechados. Daria algum dinheiro ao cobrador do aluguel para que não fosse despejado, visto que nunca pagara um mês por completo. E guardaria um pouco para as mulheres, teria que conseguir de outra forma agora que ela se fora.

Ela passava pela frente do bar no caminho do trabalho para casa, como sempre. Viu que ele estava lá. Pensou em entrar e conversar com ele. Desistiu. Afinal, fazia apenas alguns dias desde que se separaram. Não gostava do verbo terminar, nesses casos. As pessoas não terminavam, suas vidas não terminavam, apenas mudavam seus rumos, suas rotinas. 
Tinha prometido para si mesma que a última vez em que estiveram juntos seria diferente ou então, seria a última. E foi.

Ele olhava as horas no relógio, não que tivesse algum compromisso ou que teria hora para ir embora, mas gostava de ter consciência delas. 
Pediu mais um, bebeu um gole e pensou que talvez sentiria falta do calor do corpo dela ao acordar.

Ela continuava parada na frente do bar. Se sentia orgulhosa em ter conseguido sair daquela situação. Via o movimento das pessoas na rua, algumas entravam ou saíam do bar. Gostava de ficar horas observando os sapatos das pessoas que passavam por ela. 
Hesitou mais uma vez, e por fim entrou. Sentou ao lado dele, pediu uma dose, a de sempre.
- Boçal.

Terminaram suas bebidas e foram para casa juntos. Treparam no sofá, como sempre.