Acordei mais cedo que ele hoje, o que é bastante raro.
Fiquei ali por um tempo observando. O peito subindo e descendo com a respiração, os espasmos repentinos, uns intensos, outros nem tanto, e no rosto uma expressão serena. Não gosto de vê-lo dormir, parece morto naquela posição.
Me perdi pensando em nossas coisas. Como eu já o olhava antes de vir falar comigo aquele dia no bar. A gente se deu bem desde o início. Depois de algumas semanas comecei a dormir aqui às vezes, trazer meus pertences aos poucos, mudar a posição dos móveis na casa.
Não me preocupei em sentar e conversar sobre como estávamos, sobre os ritmos e os passos do relacionamento. Tudo era muito natural para mim, e como ele também nunca se pronunciou, fiquei.
Quando terminei de trazer o que era meu, passei a pagar algumas contas, afinal, nada mais justo. Nem quanto a isso houve algum comentário...
As semanas passaram e fomos levando adiante.
Agora me vejo diante do espelho enquanto escovo dos dentes. Faço uma pose ou outra, percebi que ele me olha ainda deitado na cama.
Penso e não encontro mais os motivos que nos fizeram chegar até aqui.
Ele ainda não sabe, mas perdi o gosto pelo que é nosso e a vontade de estar junto dele.
Hoje enquanto ele trabalha, vou retirar minhas coisas. Deixo a chave junto de um bilhete na caixa de correspondência.
Um comentário:
Situação muito ruim, mas um texto muito bom.
Já vi (e vivenciei) uma situação assim. Não gosto nem de lembrar. Por mais ruim que tenha sido, ou que seja, é bom ter isto em mente, mas procurando afastar do seu redor, acreditando que nunca mais vai acontecer.
É o fim. E ele nunca é fácil, bonito ou justo. Nunca o foi e nunca será.
Conformar-se e tocar as coisas pra frente. Segue a vida.
Beijão
Postar um comentário