domingo, 27 de setembro de 2009

recomeçando.

ONTEM

Ontem eu quis me jogar de uma sacada no sétimo andar.
Não que eu quisesse acabar com a minha vida, não que eu não goste dela, eu até gosto. Só queria ver a reação das pessoas.
Uma intensa necessidade de ver quem sofreria, quem choraria falsamente, quem não se importaria. Uma atitude plenamente egoísta, eu sei, mas às vezes é preciso ser, ao menos um pouco egoísta...
Eu via as pessoas passando lá embaixo e me perguntava quanto tempo demoraria até alguém perceber a minha ausência.

“Um cara morreu no metrô em Los Angeles e demorou 6 dias até que alguém percebesse.”

Sentia o vento no meu rosto e desejava os poucos segundos de liberdade que eu teria durante a queda.
Clichê? Nem sei mais...
A insônia havia consumido meu sono há umas 9 noites, a falta de apetite por comida e pela vida me acompanhava há algumas semanas.
E eu continuava ali, olhando para qualquer coisa, distraidamente.
Mas por sorte, ou falta dela, tive que voltar, as pessoas chegavam para o almoço e eu precisava usar algo que ainda existia em mim, a educação.
Disfarcei minha angustia, como de costume, mas os olhares que me seguiam pareciam saber exatamente o que se passava.
Queria que alguém me percebesse, me visse e me desse a mão, para que a ânsia de acabar com aquilo não me vencesse.
E então eu senti seus braços me envolverem e não mais consegui me conter, desisti.
Depois do desespero veio o medo. Medo esse de ter pensado isso, de não ter saído da sacada a tempo, de ter chegado a esse extremo.
E a tristeza, de ter visto em seu olhar o quanto lhe doía ouvir e ver meu sofrimento.
Arrependimento, talvez, de ter tido a vontade, de ter lhe falado, de não ter tido coragem de resolver os problemas antes que eles ficassem assim.
Agora já não tenho mais essa vontade estúpida e egoísta. Mas ainda há o receio, de que da próxima vez, caso ela venha a acontecer, não tenha ninguém ali.

Um comentário:

Bruno disse...

Sei que não é comentário mais adequado, mas que bonito isso. Irônico como existe uma beleza sutil na tristeza, na solidão. Mas é uma beleza pra quem olha a situação de fora, porque não são sentimentos nada legais pra quem sente.

Sempre tem alguém. O ruim é quando a gente olha, olha e não consegue achar onde.

* * *
Voltou? Eba! E fui o primeiro a comentar! Que honra. :)