quinta-feira, 17 de junho de 2010

não mais.

Acordei mais cedo que ele hoje, o que é bastante raro.
Fiquei ali por um tempo observando. O peito subindo e descendo com a respiração, os espasmos repentinos, uns intensos, outros nem tanto, e no rosto uma expressão serena. Não gosto de vê-lo dormir, parece morto naquela posição.

Me perdi pensando em nossas coisas. Como eu já o olhava antes de vir falar comigo aquele dia no bar. A gente se deu bem desde o início. Depois de algumas semanas comecei a dormir aqui às vezes, trazer meus pertences aos poucos, mudar a posição dos móveis na casa.
Não me preocupei em sentar e conversar sobre como estávamos, sobre os ritmos e os passos do relacionamento. Tudo era muito natural para mim, e como ele também nunca se pronunciou, fiquei.
Quando terminei de trazer o que era meu, passei a pagar algumas contas, afinal, nada mais justo. Nem quanto a isso houve algum comentário...

As semanas passaram e fomos levando adiante.

Agora me vejo diante do espelho enquanto escovo dos dentes. Faço uma pose ou outra, percebi que ele me olha ainda deitado na cama.
Penso e não encontro mais os motivos que nos fizeram chegar até aqui.

Ele ainda não sabe, mas perdi o gosto pelo que é nosso e a vontade de estar junto dele.
Hoje enquanto ele trabalha, vou retirar minhas coisas. Deixo a chave junto de um bilhete na caixa de correspondência.

Um comentário:

Mendel disse...

Situação muito ruim, mas um texto muito bom.

Já vi (e vivenciei) uma situação assim. Não gosto nem de lembrar. Por mais ruim que tenha sido, ou que seja, é bom ter isto em mente, mas procurando afastar do seu redor, acreditando que nunca mais vai acontecer.

É o fim. E ele nunca é fácil, bonito ou justo. Nunca o foi e nunca será.

Conformar-se e tocar as coisas pra frente. Segue a vida.

Beijão