quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

buk.

Sentada naquele canto quase escondido eu podia ver todo o quarto e parte do banheiro.
O cheiro no ar era uma mistura podre de bebidas, suor, sujeira, sexo e perfumes baratos. A poltrona em que me sentava era velha, visivelmente surrada e com uma grande mancha no braço esquerdo, que eu preferia não tentar descobrir a que pertencera.

Presenciava várias cenas ali. Porres, brigas, ressacas, beijos, vômitos, copos esvaziavam e enchiam novamente, pessoas entravam, sentavam, falavam sem parar, e finalmente iam embora. Ele ficava, mas quase nunca sozinho.
A escassez de luz no cômodo me fazia perder alguns detalhes. Durante boa parte do dia o lugar ficava vazio. Era de noite e de madrugada que a movimentação tomava o quarto, o que piorava minha situação.

Certa noite, o vi entrar no quarto com duas garrafas de vinho e uma mulher. Essa eu nunca tinha visto. Conforme ele enchia os copos e ela tirava parte da roupa, minha visão foi ficando embaçada.
Comecei a sentir um calor que não era típico do ambiente, vozes de pessoas que não estavam lá, um balanço esquisito e involuntário no corpo. O desconforto por me perceber sentada em algo que não era a poltrona, a claridade excessiva e o volume crescente de vozes fizeram com que tudo viesse à tona, como o tranco de um corpo no final de um salto de Bungee Jump.

Era um dia comum de verão em um país tropical, eu me encontrava sentada dentro de um ônibus lotado lendo “Notas de um Velho Safado”.

2 comentários:

roberto disse...

porca miséria. bravo!

Paulo Bono disse...

Curto pra caralho o Velho.

abraçp